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COPA DO MUNDO: TORCER OU NÃO TORCER?



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O início da Copa do Mundo de 70 nos tornava ainda mais notados em Chillán, por sermos os únicos brasileiros residindo na cidade.

Na colônia de exilados brasileiros, existia uma clara divisão entre aqueles que acreditavam que não deveríamos torcer para a equipe do Brasil, por ser o futebol e a seleção brasileira utilizados politicamente pela ditadura, e outros que torciam pela nossa equipe, apesar de terem claro que o futebol servia de instrumento à ditadura militar.


Eu sempre me situei no grupo que torcia para o Brasil.


Sabia que a ditadura fazia uso político do interesse popular pelo futebol.


O ditador Garrastazu Médici foi o que mais se utilizou desse esporte para enganar o povo e fazer demagogia. Com essa atitude, encobria a violenta repressão que sustentava contra a luta oposicionista no país.


Também Pelé, o principal expoente da nossa seleção na época, sempre se prestou a ser garoto propaganda da ditadura. Além de defendê-la, apregoava que no Brasil não havia racismo e chegou, em algumas oportunidades, inclusive no Chile, a recusar-se receber exilados brasileiros.


Estava seguro, porém, que não era deixando de torcer pelo Brasil no futebol que agiríamos corretamente. Até porque, assim procedendo, deixávamos todo o espaço dessa área à ditadura, quando, na verdade, acreditava que tínhamos que demonstrar que a seleção brasileira pertencia a todos nós e não a meia dúzia de generais corruptos e assassinos.


Estávamos, assim, torcendo pelo Brasil e assistindo aos jogos da Copa em companhia de amigos em Chillán, quando nos chega a notícia do sequestro, no Rio de Janeiro, do embaixador alemão Ehrefield Von Holleben, por um comando da VPR e da ALN, no dia 11 de junho de 1970, estando à frente da ação, o companheiro da ALN, Eduardo Leite, o “Bacuri”.


O sequestro conseguiu libertar 40 presos políticos que foram para a Argélia. Eu vibrei com a ação que, embora soubesse haver sido realizada em condições muito difíceis, pois as duas organizações tinham pouquíssimos militantes no Brasil, mais uma vez fez com que a ditadura cedesse e libertasse nossos companheiros.


No dia 21 de junho, o Brasil goleia a Itália por 4 x 1 e se torna tricampeão do mundo.

Eu e Beti fomos entrevistados por um jornal de Chillán, que pretendia saber como havíamos comemorado a vitória do Brasil na Copa — eu respondi que comemoramos com vinho chileno.


Leopoldo Paulino

Livro Tempo de Resistência 11ª. Ed. p. 247

 
 
 

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