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O Marighella de Wagner Moura

Atualizado: 18 de jan. de 2023

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Finalmente assisti ao filme “Marighella”, aguardado com muita ansiedade por nós que tivemos a honra de militar na (ALN) Ação Libertadora Nacional, já que seria a oportunidade de termos nosso Comandante expressado artisticamente na linguagem cinematográfica e por um prestigiado artista como Wagner Moura.

O filme começa com uma ação de expropriação de armas e abre com excelente trilha sonora.

Creio que o mérito de apresentar Marighella e tornar conhecida sua História é inegável, já que a chancela Wagner Moura tem o respeito da crítica e excelente penetração com o público em geral.

Entretanto Marighella na leitura de Wagner Moura é superficial, contraditório e muito aquém da personalidade real do grande Comandante.

Lamentável que um grande orador, escritor e poeta como foi de verdade Carlos Marighella tenha sido reduzido no filme de Wagner Moura às falas de frases de efeito, deslocadas de sentido e que não demonstram verdadeiramente o grande quadro político que ele foi.

O personagem Marighella do filme é contraditório tanto no texto, como em relação à realidade dos fatos, um exemplo quando o personagem interpretado por Seu Jorge repete a fala de Marighella "nenhum militante precisa pedir licença para fazer ações revolucionárias” e a seguir se posiciona contra o sequestro de Elbrick, ou em certo momento quando propõe um recuo com a suspensão das ações armadas, o que que não corresponde à realidade histórica, distorções que empobrecem o personagem e violentam a memória de nosso Comandante.

O contraditório e confuso Marighella de Wagner Moura pronuncia a conhecida frase “não tive tempo para ter medo”, mas na cena com Clara diz estar com medo, sentimento que ele nunca teve.

Também deplorável é a cena em que Marighella de Moura, de forma debochada, manda que um padre ligado à Organização seduza a mulher de um coronel da ditadura e pior ainda é a fala do nosso saudoso Comandante, ensandecido gritando: “É terror!”, “É terrorismo!”.

É chocante que na interpretação de Wagner Moura o grande líder político e comunista seja apresentado como uma figura grotesca e caricata.

Sem a devida referência histórica e análise política, no filme os guerrilheiros acabam sendo retratados como inconsequentes e despolitizados, que agem apenas pelo impulso. A atuação do personagem Humberto é um desrespeito aos valorosos companheiros que morreram pela causa. Truculento, ele chega a ameaçar um camarada com sua arma e em outra cena agride uma companheira, agarrando-a pelo pescoço, atitudes que não condiziam com o dia a dia de nossa militância na luta armada.

Tal passagem me remeteu ao filme “O que é isso Companheiro”, no qual o Companheiro Jonas é retratado de forma similar, brilhantemente repudiada na artigo “As duas Mortes de Jonas”, de autoria do valoroso Camarada Franklin Martins.

Minha companheira Rose Paulino observou bem que seria de fato um desafio e tanto para Wagner Moura, que ganhou notoriedade com o trabalho no filme “Tropa de Elite”, compreender e saber expressar a complexidade do comunista e revolucionário Carlos Marighella.

Nos créditos do filme consta que ele tenha sido inspirado no livro “Marighella, o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães, no entanto, este livro é efetivamente uma relevante contribuição para a História. A película de Wagner Moura não faz jus ao livro e se foi uma inspiração, distanciou-se totalmente das verdade dos fatos apresentados no livro.


Trazer a discussão do tema é o grande mérito do filme e abre espaço para que outros cineastas, atores e produtores culturais possam talvez apresentar suas versões e oxalá elas não incorram no erro de se distanciarem da História e possam demonstrar mais respeito à nossa luta e ao líder comunista Carlos Marighella.


Leopoldo Paulino.

Comunista, músico, escritor, esportista e advogado. Preso e exilado político durante a ditadura militar no Brasil, foi líder estudantil e pertenceu à ALN (Ação Libertadora Nacional, comandada por Carlos Marighella). É dirigente do Coletivo Tempo de Resistência.






 
 
 

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1 comentário


Pedro César Batista
Pedro César Batista
23 de nov. de 2021

Concordo plenamente com sua análise. Marighella, organizado, estudioso e revolucionário marxista - leninista esteve fora da tela. Valeu pelo resgate do grande comandante, mas o filme lembra o cinema holydiano, em busca de sucesso.

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