“OU FALA ONDE ESTÁ DENISE CRISPIM, OU VAMOS DEIXAR SEU FILHO MORRER NA SUA FRENTE”!
- Leopoldo Paulino

- 14 de set. de 2021
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1973 – GOLPE DO CHILE: Tortura Psicológica
O golpe de Pinochet usou rádio e TV para incitar a população a denunciar os exilados que viviam no país com a mensagem “denuncie o estrangeiro: ele é seu inimigo”, isso nos impedia de levar nosso filho de 1 e 7 meses ao médico. Um amigo chileno se dispôs a levá-lo e enquanto esperávamos por ele, observei dois carros adentrarem o residencial, com um homem a pé portando uma submetralhadora.
Os policiais invadiram e revistaram o apartamento com violência, perguntavam por Denise Crispim, que dizíamos não conhecer.
Com Tico no colo, eu procurava demonstrar calma e por isso não percebi que ele perdera os sentidos, em virtude da falta de ar que a enfermidade lhe causava.
Ao notar que o filho passava mal, Beti chorando tomou-o em seus braços e pediu ao chefe dos policiais que o levassem ao médico.
“Ou fala onde está Denise Crispim, ou não vamos levar o menino ao hospital e vamos deixar seu filho morrer na sua frente”!
Beti, que estava grávida de seis meses, chorava muito com Tico nos braços, afirmando que não conhecia Denise e renovou seu pedido em franco desespero.
Olhei para a submetralhadora, notei que estava travada. Fiquei na dúvida se estavam blefando ou se pensavam mesmo em deixar meu filho morrer sem atendimento.
Com firmeza eu disse mais uma vez que não conhecíamos nenhuma Denise Crispim e exigi que levassem Tico ao hospital, já resolvido, caso se negassem, a arrancar-lhe a submetralhadora das mãos, certo de que, provavelmente morreríamos todos.
Disse, erguendo a voz: “É melhor vocês levarem o menino ao médico”, sem tirar os olhos da arma. O tira percebeu minhas intenções e até hoje não sei se, por medo ou compaixão, ordenou que dois de seus comandados, que estavam do lado de fora do apartamento, levassem Beti e Tico para que ele fosse medicado, utilizando um dos veículos da operação.
Os policiais saíram em alta velocidade com a sirene ligada, enquanto no apartamento quatro homens dariam início a “novo interrogatório” a mim e a Encarnación para saber onde estava Denise Crispim.
(Livro Tempo de Resistência 11ª. Ed. Págs. 329-330)







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